A inflação permite um aumento brutal da receita fiscal, mas o governo decidiu não usar essa receita para apoiar quem trabalha e vê o seu salário comido pela inflação, nem mesmo para responder aos enormes problemas dos serviços públicos essenciais. Este orçamento coloca quem é mais pobre, e não tem margem para acomodar a alta de preços, numa situação impossível. A proposta de atualização dos salários dos trabalhadores do Estado, que serve de referência para o setor privado, ignora as previsões de inflação do próprio orçamento. Há três meses, o Primeiro-Ministro prometia a professores e enfermeiros que teriam mais rendimento, agora garante que, com uma inflação de pelo menos 4% e uma atualização salarial de 0,9%, os preços vão subir quatro vezes mais do que os salários. Ao repetir os velhos mantra da direita, o governo fala numa língua morta. Ela deixou de usar-se quando, em 2016, ficou provado que o crescimento económico e a consolidação orçamental dependem de uma economia que puxe pelos salários e pensões. O Bloco de Esquerda, pelo contrário, não deixou de acreditar na escola pública para as crianças, no SNS para quem precisa, na habitação como um direito e não um luxo, na ideia de que um jovem não deve viver condenado à escolha entre o desemprego e o contrato precário, numa economia que respeita quem trabalha. Partilhar